dei-te,
criatura, a imortalidade, e não a juventude eterna.
Repugnante diante do espelho. Por mais que se esforce, não vê traço algum
de quando jovem. Aliás, nem mesmo as
fotos lhe trazem lembranças de outrora, mesmo com a sua memória prodigiosa: sempre refletem sua imagem atual,
embora se veja, por instante, como antes.
Lembra-se de poses, inclusive nuas, para Alberto Henschel. Lembra-se até da partida de seu pai, na manhã
de 12 de março de 1823, para Estanhado, acompanhando emissário do Capitão Luís
Rodrigues Chaves, conduzindo carta ao João da Costa Alecrim, que, por conta do
ali narrado, aderiu ao confronto, em Campo Maior, com as tropas portuguesas.
Pobre
criatura, a quem dei a vida. Os males e
dores da velhice lhe acompanham. Mas
todos a vêm jovem e bonita. As fotos que
atribui ao Alberto Henschel, por exemplo, na mão de todos, não passam de
instantâneos de polaroides. Uns 30 anos, se muito, lhe dão.
E, no entanto, para que lhe serve a
imortalidade, se não preservada a juventude? O mundo à sua volta, irreal, não ameniza o seu
sofrimento, mesmo que os sorrisos que lhe são dirigidos não retratem repulsa ou
compaixão por seu corpo esquálido e vincado.
Sou
senhor do seu destino. Dei-te vida e a ilusão aos que te rodeiam. Um dia, quem
sabe?, não te mato, embora tal desfecho seja improvável.
Para Bezerra JP
dei-te,
criatura, a imortalidade, e não a juventude eterna.
Repugnante diante do espelho. Por mais que se esforce, não vê traço algum
de quando jovem. Aliás, nem mesmo as
fotos lhe trazem lembranças de outrora, mesmo com a sua memória prodigiosa: sempre refletem sua imagem atual,
embora se veja, por instante, como antes.
Lembra-se de poses, inclusive nuas, para Alberto Henschel. Lembra-se até da partida de seu pai, na manhã
de 12 de março de 1823, para Estanhado, acompanhando emissário do Capitão Luís
Rodrigues Chaves, conduzindo carta ao João da Costa Alecrim, que, por conta do
ali narrado, aderiu ao confronto, em Campo Maior, com as tropas portuguesas.
Pobre
criatura, a quem dei a vida. Os males e
dores da velhice lhe acompanham. Mas
todos a vêm jovem e bonita. As fotos que
atribui ao Alberto Henschel, por exemplo, na mão de todos, não passam de
instantâneos de polaroides. Uns 30 anos, se muito, lhe dão.
E, no entanto, para que lhe serve a
imortalidade, se não preservada a juventude? O mundo à sua volta, irreal, não ameniza o seu
sofrimento, mesmo que os sorrisos que lhe são dirigidos não retratem repulsa ou
compaixão por seu corpo esquálido e vincado.
Sou
senhor do seu destino. Dei-te vida e a ilusão aos que te rodeiam. Um dia, quem
sabe?, não te mato, embora tal desfecho seja improvável.
Para Bezerra JP
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