Eu, se o autor do conto, retiraria do título a locução adjetiva.
— O Quarto Quarto da Casa... O Quarto Quarto. Gostei!
Cortaria também a terceira página.
— Toda?
É. Esse namoro aí é imbecil.
— Um pouco piegas, talvez...
Não. Imbecil, mesmo.
— Porque o cara é do tipo que ainda manda flores?
Detesto flores.
— Eu sei. Mas ele, não.
Corte esse namoro.
— Já mudei o título...
Suprima o namoro.
— Aí a mensagem de perdão, que quero passar, some...
Literatura não tem que ter mensagem.
— Mas sempre há mensagem...
Pois o leitor que a ache, com lupa.
— E pensar que você já foi um escritor engajado...
Erro de extrema juventude, meu amor, isso.
— Não sou mais tão jovem, eu, é certo.
Você é linda!
— Olhe, se eu encerrar aqui, perco o desfecho.
Fecha no clímax...
— O leitor não gosta assim, eu acho.
E a vida?
— Que é que tem a vida?
A vida por acaso é do jeito que gostamos?
— Estou falando de literatura.
Ah, tá...
— Certo. Namoro eliminado. E agora?
Agora é podar a segunda página.
— Inteira?
É. Conto não é oceano que se derrama, mas dique que o
contém.
— Viva! Você gostou da minha frase de abertura!
Conto com duas páginas já é oceano que se derrama...
— Se eu fizer assim, não destruo o clímax?
Para criar, destruir é preciso.
— Mamalujo bateu a porta atrás de si.
Ponto final.
— E o leitor?
O leitor que preencha as lacunas, ora.
— Não pode ser assim...
Deve. Ou você escreve para vender sabonete?
— Lá vem me acusar de publicitária...
E não é?
— Tá bom. Fora, clímax!
Agora, inscreva o conto.
— Tenho chance?
Não, mas tem um conto.
— Quero ganhar!
Então mantenha o título original, reponha o namoro imbecil,
preserve o clímax e deixe aí, intocado, o tal desfecho.
— Acha que ganho?
Com esse texto de primeira mijada, sim.
— Você os subestima...
Eles merecem. Vamos beber?
— Vamos.
Um comentário:
Perfeita síntese sobre conto. Aquele que vence o certame nem sempre tem qualidade para tal... E muitos seguem sendo injustiçados pelos homens imediatistas, esperando a justiça do tempo, o melhor crítico de arte que há.
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