domingo, 31 de maio de 2009

sábado, 16 de maio de 2009

MEIO SÉCULO

Ufa!, cheguei até aqui. Sinceramente?
Não me importa se tiver que levar mais 50 anos
para fazer outro tanto. Isso mesmo.
Quem disse que vou dobrar
o cabo da boa esperança somente uma vez?
Estou apenas no meio da jornada,
que é maior do que a imaginada por Dante.

Tá certo que ainda não fiz minha revolução,
mas há o que comemorar.
Os brinquedos Lego, que nem humanos são,
comemoram seus 50 anos.

E partir de agora, farei que nem Borges.
Vou me duplicar, estabelecer frequentes
diálogos comigo mesmo, a partir dos 10,
que antes disso eu ainda acreditava em coisas impossíveis.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

DON JUAN EM RUÍNAS,



“És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo Tempo Tempo Tempo”
Caetano Veloso



já não se olha no espelho: as mãos vincadas denunciam a vetustez. O rosto, antes das mãos, composto em mosaico. E quando inteiramente disforme a face, desprezou os espelhos. Foi quando se enclausurou no apartamento. Notícias, absolutamente inúteis, chegavam-lhe com Zefinha, serviçal, como fora a avó e a mãe. Sabe da vida lá fora, em verdade, por sua Nikula. Da varanda, até certo tempo, avistou o calçadão da Barão de Castelo Branco, com bundas em exercícios. Com elas, lembranças de algumas mulheres que tivera. Deixou de vê-las quando a memória falhou definitivamente. Agora, mira a luneta em direção à zona leste, e à frente de seus olhos apenas transeuntes.

Dom Juan em trapos, ei-lo dirigindo-se ao escritório, aflito para, num lampejo de memória, narrar mais uma de suas aventuras. À escrivaninha, nenhuma lembrança. Restara-lhe gritar por Zefinha que, lasciva, como a avó e a mãe, atendeu-o nua. E então narrou a sua desfloração por Laerte, em um elevador, como antes narrara o seu desvirginamento por Abreu, em casa; por Berto, num matagal; por Cardoso, num campo de várzea; por Deodato, atrás da matriz; por Francisco, num Fusca; por Guilherme, num riacho; por Henrique, num motel; por Ismar, numa avenida; por Jaime, num jet sky; e por Kelson, num hotel, como se tivesse sido, efetivamente, a sua primeira trepada. À narrativa de Zefinha, por ele adornada, nenhuma ereção, mesmo quando, vez por outra, olhava a carne fresca, os pelos púbicos. A terceira geração, para ele, definitivamente, inatingível.

Nem lembra, coitado, que a mulher, sua companheira, por várias vezes tentou matá-lo, possessa por flagrá-lo em sem-vergonhices. Ele sempre, quando não possível as negar, alegava que fora seduzido, cinicamente recomendando que as matasse e não a ele, verdadeira vítima. A mulher, nessas ocasiões, retrucava que não se tornaria uma serial killer. Os amigos, quando os tinha, lembravam dos episódios, às gargalhadas. Agora, restava-lhe, acha, apenas Elizeu — há menos de um ano se falaram ao telefone. Os demais mortos estavam.

O que lembra, e lembra bem, é do temor que tinha da velhice. Os primeiros cabelos brancos pareceram-lhe uma condenação severa. Nunca supôs que a pena que o tempo iria lhe impor era a da prisão perpétua, sem qualquer apelação. Melhor a de morte. A morte — ah, a morte! —, recusava-lhe como hóspede: a certeza advinha de fracassadas tentativas de suicídios. Definitivamente, teria que viver com o que mais abominou na vida: o envelhecimento.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

JOÃOZINHO, O VOYEUR, DEPOIS QUE O CINTURÃO VERGASTOU-LHE AS COSTAS NUAS SEGUIDAS VEZES.

- Então, moleque! Ainda vai espionar sua irmã (que, dentro do quarto, com o ouvido colado à porta e nua, mordia, de puro gozo, as unhas e ria de prazer, isso depois dos sucessivos orgasmos que coincidiram com as vergastadas) se trocando pelo buraco da fechadura?
- Prometo (que) não, mãe, respondeu, ajoelhado, a cabeça baixa, as mãos para trás, a esquerda fechada com a falange distal do polegar introduzida entre o indicador e o médio.