domingo, 8 de março de 2009

MULHER, NA OPORTUNIDADE DO DIA

Mulher!
um homem bate à tua porta
e pede permissão para pronunciar teu sagrado nome.
Não, não é para invocá-lo em vão,
mas para te dirigir algumas palavras
falando de dentro do coração.

E quisera esse homem que suas palavras tivessem a força da emoção de Neruda quando venera tua alma feminina ao cantar a canção do amor armado e incondicional.
Ao menos brotassem das mesmas a espontaneidade presente na lírica de Drumonnd que, mesmo tímido, te cobre de beijos em seus poemas.
Na verdade, para ele já seria de bom tamanho se tais palavras fossem pronunciadas com idolatria, a mesma de Vinicius quando exalta tua existência mulher.

Mas na falta do menor talento, esse homem pede apenas licença para escrever teu nome na pedra, na areia fina da praia, no azul do firmamento, nas águas profundas, nas estrelas mais distantes, abaixo e acima dos trópicos, nos sinais de trânsito, nos quatro pontos cardeais, nos luminosos das grandes cidades, nas aglomerações urbanas, no ponto mais extremo da terra enfim.

O teu nome em nome de todas: mães, filhas, companheiras, guerreiras, trabalhadoras, cotidianas e comuns.

Mulher!
Dou-te um nome, melhor dizendo, vários: Marias, Clarices, Joanas Darc’s, Madalenas, Annes Frank, Olgas Benário, Teresas de Calcutá, Coras Coralinas, Irmãs Dulces, Cecílias Meirelles, Cleopatras, Afrodites, Helenas, Isabelas de Castela, Marias da Penha, Quitérias e Stuarts, Elizabeths, Rainhas Vitória, Anitas Garibaldi, Catarinas, Chiquinhas Gonzagas, Margaridas e Rosas de Luxemburgo.

Essas e tantas outras que aqui não nomeie, e tu mulher!,
ao panteão da glória elevarei.

Porque, além de tudo, ser mulher é desfibrar, fibra por fibra, o coração do homem, também.

sexta-feira, 6 de março de 2009

GREGA

Não era grega, acho. Mas quando pela primeira vez a vi, a impressão foi a de que, com elegância, o tornozelo à mostra, preso por uma corrente, acabara de descer de um óleo na parede. Sim, Dominico Greco! Não que fosse, mestre, exatamente igual às donzelas longilíneas que seu gênio retratou. Mas quase tudo nela, quando não alongado, era generoso. Fêmea perfeita. Mãos, dedos, o par de pernas torneadas, os quadris, os seios balouçando, o pescoço, o brilho dos olhos, o dorso nu, enfim, menos suas vergonhas, me certifiquei somente depois, não mediam mais que duas polegadas.

Grega podia até não ser, mas assim se movimentava. Foi o bastante para que eu passasse a venerar o solo em que ela pisava, nada de túnica a lamber o chão, o espaço que ocupava com o corpo longo e ondulante; na praia, a areia fina, fofa e quase invisível que ela removia com os pés por onde passava, na verdade se curvava em sinal de respeito.

Se grega ou não, o fundamental é que era uma deusa. Ártemis, Hera e Afrodite reunidas ou um pouco de cada qual. E nem perdeu a aura divina no dia em que se mostrou a mim como veio ao mundo. A genitália? Lisa, alva, pequenina, sem pelos na pele branca.

Não era grega, agora posso dizer. Mas quando pela primeira vez minha espada de fogo, fremida, rasgou-lhe o ventre, Zeus, do alto do Olimpo, iracundo, disparou suas flechas de ciúme.