terça-feira, 21 de abril de 2015

RIO DE HERÁCLITO

Sou o rio de Heráclito
Quem me vê assim imóvel na superfície
Não sabe o que me movimenta por dentro
Minto
Na verdade
Sou como o rio de Heráclito
E quem me vê assim calmo na superfície
Não imagina como me movimento por dentro
Decididamente, sou o rio de Heráclito
E a face serena que o espelho d’água reflete 
É apenas um convite para o mergulho
Talvez eu não seja o rio de Heráclito, apenas tomei-lhe emprestado
E acrescentei uma diferença
Sou circular
Assim como o redemoinho
Como a volta a mais do parafuso
Ou talvez eu seja mesmo esse rio 
Se o que sou agora
Eu já fui antes
E carrego comigo uma única certeza
Que não sei se fruto da vigília ou do sonho
Se, ao contrário de Borges, nunca soube a sorte do meu destino,
Posso dizer que é do fundo do leito do rio que tomei de Heráclito
Que retiro a força
Que ora rompe e esgarça
Que ora se queda e se levanta
É lá que sedimenta
A matéria dos sonhos com a qual construo e sou construído.



sábado, 18 de abril de 2015

O MANDAMENTO MAIS BANALIZADO DO MUNDO

No restaurante, dois amigos petiscam e bebem cerveja enquanto aguardam o repasto principal. No fundo, um casal se levanta, se dirige à saída e cruza com eles. O homem, amigo comum. Cumprimentos, amabilidades. Trocam rápidas informações e se despedem. Mal se retiram, os dois cochicham. Ao constatarem que não havia o risco de serem surpreendidos, sincronizados, fazem um giro copernicano. Enquadram o objeto de desejo, se maravilham com o que veem. A baba, escorrendo pelo canto dos lábios. Segundos depois, retornam à posição anterior. Um deles indaga, enquanto o outro só balança a cabeça, então, que tal?


sábado, 28 de março de 2015