quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

ECOS DE UMA INFÂNCIA

As folhas secas varridas do chão levantam vôo. Um gato, rápido, dobra a esquina (vi a ponta do rabo preto) e se esconde num canto qualquer da velha casa. Minutos depois, ainda o vento. As folhagens das mangueiras tocam-se umas nas outras, se cumprimentam, fazem festa. Vem chuva aí. Por enquanto, pingos, apenas pingos, um aqui outro acolá. Na minha cabeça, um deles explode. Olho pro céu. Um clarão parte no meio a nuvem negra. No instante seguinte, o chão estremece sob meus pés. O velho vira-lata, que mal arrasta a pata, não se assusta mais. Deus ralhando com São Pedro. Mais pingo pingando. Ergo mais a cabeça. Escancaro a boca. Um deles, que eu aparo com a língua, com o impacto, se transforma em estilhaços. Doce. O crepitar no telhado. Agora sim, é chuva. Sonora. Caí do céu, escorrega pelo chão. De volta, aquela infância. O cheiro de terra molhada. Fofa, fina, revirada. O banho de bica. A bronca de mãe. O grito de pai. Noite de febre. Minha tia e sua reza forte. Na manhã seguinte, o riacho cheio.