sexta-feira, 11 de março de 2011

OLHOS DE ANJO OLHOS DE ANJO

Quando cavalgava, mantinha curtas as rédeas e tesos a cabeça e o pescoço do Puro Sangue, o que conferia mais elegância ao trote. Uma raposa, cujos olhos miúdos brilhavam com o tirilintar de moedas de ouro. O chapéu, não exatamente negro, escondia a calvície avançada. O cachimbo, quando preso a um dos cantos da boca, tinha outras utilidades. Assim como para suas reflexões, usava-o também para destilar o veneno que expelia com um olhar contido. Botas e esporas lhe proporcionavam um caminhar firme e pausado. A mão direita, sempre próxima ao coldre invertido e do lado oposto, chamava atenção pelo dedo médio, cuja falange fora decepada com um punhal pelo próprio pai quando ele ainda era uma criança inocente. Não agia por ódio ou ressentimentos. Pragmático. Matar era apenas um negócio, o que não impedia de exercer o ofício com rigor excessivo e sangue-frio. Por isso a frieza no olhar, a impressão de que quase não respirava, a crueldade sem limites. Mas, sejamos justos: ninguém podia acusar-lhe de que não cumpria sua parte, mesmo que para isso tivesse que agir como agente duplo.