quinta-feira, 24 de julho de 2008

HEPTAGRAMA

Foi o primeiro de uma linhagem de sete. A mãe, maldição nenhuma lhe lançou. A dedicada esposa, uma mulher resignada. Assim, cumprir a missão – que lhe veio naturalmente e pelas mãos de Príapo - não lhe pareceu uma tarefa hercúlea; antes, uma dádiva divina (perdoem a redundância) com a qual os eleitos, os justos e os bens aventurados, somente eles, são ungidos. Seduziu sete mulheres puras. Todas previamente irrigadas com vinho tinto. Nenhuma delas respondia pelo nome Maria. Sobre elas derramou as sete taças de sua graça. E a cada uma deu o nome de uma deusa grega, porque foi assim que elas se mostraram. Por isso, deu-lhes mais que a espada fremida, quando lhes penetrou a carne. Era um dedicado pescador, de almas femininas. Estudioso, também. Ninguém as compreendia melhor, sentenciava. Elas, mais que isso, intramuros, confirmavam o que já se sabia. Tinha o toque de Midas. Depois de sua passagem, cada uma delas alcançou a graça perseguida pela maioria das mulheres medianas, as verdadeiras altivas. Casaram-se. Um filho haveria de completar-lhes a felicidade. Gratas, se sentiram também no direito de chorar sua súbita morte, como se viúvas fossem, o que de fato eram. Foi quando se conheceram, se é que se pode dizer que se conheceram, pois palavra nenhuma foi pronunciada, olhar nenhum foi trocado, nenhuma cumplicidade testemunhada. Em todas - e as razões eram fundadas – o receio no coração de que se confirmasse uma suspeita. O mesmo olhar, a mesma abordagem, as mesmas palavras sussurradas em tons melodiosos, a mesma rendição e a alma (a dele) inquieta, sempre. Perfilaram-se uma a uma, ao lado da urna. Foi quando constataram que ele conservava na pele a mesma viçosidade. Nesse momento, assim revelam os mais velhos que testemunharam de perto e a quem não é dado a mentir, por pouco não claudicaram. A imagem das narinas obstruídas com chumaços de algodão trouxe-lhes, de volta, à realidade. Rezaram sete vezes o terço e incontáveis ave-marias. Após, circularam; umas beberam café, outras chá de camomila. Todas comeram sequilhos frescos. Misturaram-se, com aparente intimidade, entre amigos e familiares, com os quais conversaram amenidades e aproveitaram para satisfazer curiosidades. Depois, cumprimentaram, com profunda dor, a inconsolável viúva. Quando os olhos se cruzaram, não resistiram e do peito irrompeu o pranto. Havia algo de familiar. Tiveram a nítida impressão de que, em algum lugar, no passado, viveram idêntico momento. Recompostas, se prepararam para sair. Antes, tocando-lhe, com a ponta dos dedos, os lábios, que lhe pareceram ainda quentes, despediram-se.

Quando assinaram o livro de visitas, o fizeram com os nomes fictícios.

Foi o último acontecimento acerca do qual não existe divergência de testemunho. Sobre os que se sucederam, as versões são desencontradas. Dentre os vários relatos, narro abaixo o que me pareceu mais sustentável.

Ao saírem, cada uma seguiu um caminho diferente e as linhas imaginárias traçadas a partir do ponto inicial formaram um septagrama.

Aquela foi a primeira e única vez que se encontraram. Nunca mais se viram.

Ainda assim, numa combinação silenciosa, guardaram luto fechado por sete dias (quando se vestiram de preto) e mil e uma noites secretas (há quem diga que coincidiram com os dias), tempo em que as tarântulas - umas negras, outras quase ruivas - cresceram livres, para a perplexidade dos maridos.

Passada a clausura, numa noite em que a lua estava coberta de leite, todas foram simultaneamente fecundadas. Nessa mesma noite, os galos da madrugada emudeceram, os cães ganiram silenciosamente, os ponteiros dos relógios giraram no sentido contrário. Soube-se que no oriente os rios e os mares engoliram a terra. Decorridos sete meses, um raio fulgurante de mil anos-luz atravessou a abóbada celeste anunciando a aurora. Nesse exato instante, embora não saiba se é seguro afirmar, todas as estrelas de sete pontas reluziram no firmamento.

Sete dias após, os notários inscreveram em seus assentos o nascimento de sete varões. Todos registrados com um só nome, composto por sete letras e um enigma.


quarta-feira, 16 de julho de 2008

ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE

Chegou em casa com um misto de So Pretty, da Cartier, e Z, de Ermenegildo Zegna. O timbre da voz, percebeu logo, não era o comum. Nem a pauta:
— Demorei porque encontrei a fulana.
As narinas vibraram silenciosas. O Z não era feminino. Tampouco fulana era uma desmiolada: nunca usaria um perfume masculino.
Quem lhe teria tocado com patchouli? A percepção, ainda que não sentisse aroma diverso da que usava, era de quem, se não o traíra, fodendo, estivera flertando. O pigarro, quando detestava cigarro, indicava a mentira, ou, no mínimo, o desconforto.
— Você agora usa Z?
— Tá louco?
Vagabunda, murmurou, tateando o caminho rumo ao quarto. Retrucou, em sussurro, filho da puta.
E foram dormir.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

LOVE STORY

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