quarta-feira, 23 de abril de 2008

LOBA

Ao derramar do dia, deixa escapar alguns grunhidos. É quando lambe o próprio ventre. À meia noite, meio esquiva e oculta, contorce-se à meia luz. É quando se aquece. Na madrugada insone uiva para a lua, num longo gemido... É quando se queima por dentro.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O AMOR É POSSÍVEL

Ela mirou a Cyber-shot para o seu rosto uma, duas, três, quatro vezes, enquanto ele sorvia o açaí que lhe tinha sido servido. A cada foto, ela, sorridente, mostrava-lhe o feito. A contragosto, olhava-a. Findo o açaí, levantou-se, com ela seguindo-lhe à distância, contrariada.
Quando ela disse-lhe que a esperasse e ameaçou transformar comprar em verbo irregular, suprimindo as primeiras pessoas do singular e do plural, parou, abraçou-a, tentando entrelaçá-la, e beijou-a.

terça-feira, 8 de abril de 2008

CARNAVAL

Despediram-se no sábado gordo. No baile da terça, todos mascarados e com distorcedores de voz nas bochechas. No motel, acordou sozinho, a cama vazia ao lado.
Em casa, à noite, mãos dadas com a mulher em frente à retrospectiva da tv, não conseguia esquecer que o chip, o dela, logo depois do louco gozo simultâneo, falhara. Sabia-se, agora, um corno --- e isso lhe doía mais que a cabeça pesada que nem chumbo.