domingo, 5 de agosto de 2012

DESTINO: ÁFRICA




No princípio, o verbo.  E não se entenderam.  Tinha certeza de que não era bem-vindo ao chegar em casa. Nem por sua mulher; nem por seus filhos.
Então, no primeiro dia, quando todos estavam fora, arremessou à mochila o mínimo necessário e saiu de casa.  Deixava para trás o seu passado, insistia em dizer, em cada passo que dava.  Rompia os laços com a família, com a amante, com os amigos, com o trabalho. Dormiu em uma espelunca de beira de estrada ouvindo os estrilos de raparigas.
Cedo, no segundo dia, pegou carona com um caminhoneiro que se dirigia a Fortaleza.  Deixou-se em Tianguá.  E de lá seguiu para Ubajara, entre cheiros de flores ali cultivadas.  Até então, não sentia o fedor que lhe fixou o sol abrasador do Piauí.  Bastou caminhar um pouco mais, descendo a serra, depois de Ubajara, eis que o azedume se manifestou. Naquela noite dormiu na serra, em um frio que lhe fez agasalhar-se como um feto.
O sol o acordou no terceiro dia.  Banhou-se em uma queda-d’água.  Seguiu rumo a Guaraciaba do Norte.  Ali pegou uma carona até Santa Quitéria.  Pensou mandar, de uma lan house,  um e-mail para os filhos: dizer da saudade que deles sentia; e não de quanto resolveu partir, mas bem de antes, quando A., o primogênito, queria ser cowboy, e R., a caçula, imaginava-se cientista. Mas apenas leu notícias de Teresina.
Acordou em Santa Quitéria no quarto dia, em um apartamento relativamente confortável.
No quinto dia dormiu, entre Santa Quitéria e Canindé, olhando o céu estrelado. 
No sexto dia chegou a Canindé.  Não se dirigiu à Basílica São Francisco.  Receou que o destino que traçara fosse alterado.
No sétimo dia, pegou um ônibus para Fortaleza.  E em lá chegando rumou para o mar. Olhou-o. Em seguida, deixou que as ondas massageassem os seus pés, enquanto buscava o horizonte. Pronto para a jornada, lentamente encaminhou-se para a África.


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