No princípio, o verbo. E não se entenderam. Tinha certeza de que não era bem-vindo ao
chegar em casa. Nem por sua mulher; nem por seus filhos.
Então, no primeiro dia, quando todos estavam fora,
arremessou à mochila o mínimo necessário e saiu de casa. Deixava para trás o seu passado, insistia em
dizer, em cada passo que dava. Rompia
os laços com a família, com a amante, com os amigos, com o trabalho. Dormiu em uma espelunca de beira de
estrada ouvindo os estrilos de
raparigas.
Cedo, no segundo dia, pegou carona com um caminhoneiro
que se dirigia a Fortaleza. Deixou-se em
Tianguá. E de lá seguiu para Ubajara,
entre cheiros de flores ali cultivadas. Até então,
não sentia o fedor que lhe fixou o sol abrasador do Piauí. Bastou caminhar um pouco mais, descendo a
serra, depois de Ubajara, eis que o azedume se manifestou. Naquela noite
dormiu na serra, em um frio que lhe fez agasalhar-se como um feto.
O sol o acordou no terceiro dia. Banhou-se em uma queda-d’água. Seguiu rumo a Guaraciaba do Norte. Ali pegou uma carona até Santa Quitéria. Pensou mandar, de uma lan house, um e-mail para os
filhos: dizer da saudade que deles sentia; e não de quanto resolveu partir, mas
bem de antes, quando A., o primogênito, queria ser cowboy, e R., a caçula,
imaginava-se cientista. Mas apenas leu notícias de Teresina.
Acordou em Santa Quitéria no quarto dia, em um
apartamento relativamente confortável.
No quinto dia dormiu, entre Santa Quitéria e Canindé,
olhando o céu estrelado.
No sexto dia chegou a Canindé. Não se dirigiu à Basílica São Francisco. Receou que o destino que traçara fosse
alterado.
No sétimo dia, pegou um ônibus para Fortaleza. E em lá chegando rumou para o mar. Olhou-o.
Em seguida, deixou que as ondas massageassem os seus pés, enquanto buscava o
horizonte. Pronto para a jornada, lentamente encaminhou-se para a África.
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