terça-feira, 9 de novembro de 2010

COMO SE ESTIVESSE EM UM PAREDÃO



Aqui estou na peleja. Minha trincheira não me protege. Não há armas. E poucas artimanhas uso: frente a frente com o adversário, dele me aproximo, já perdeu, já perdeu, entôo; corro à minha trincheira, e nela, como num ritual, desloco-me entre 7,32 metros, mirando-o, parando no centro, vez por outra, quando flexiono as pernas, abro os braços e lanço o torso para frente, com confiança.
O que vem a seguir é imponderável. O certo é que já sou mártir desde quando se assentou o projétil a 11 metros de onde me encontro.  Não tenho por que (e não quero) me esquivar do tiro. Não como um suicida. Mas como super-herói, que, com os seus poderes, interrompe a trajetória do projétil, projetando-se, em voo, para um dos lados, ou mantendo-se onde me encontro.
Em simetria, recuo como o meu rival, sem dele tirar os olhos. Abro as pernas, e as flexiono; projeto-me para os lados com os braços. Movimento-me como pêndulo. O petardo é lançado. Salto. E, com as pontas dos dedos, toco-o. O bastante para afastá-lo para a lateral. Uma multidão urra. Levanto-me. Sou festejado.
Em simetria, recuo como o meu rival, sem dele tirar os olhos. Abro as pernas, e as flexiono; projeto-me para os lados com os braços. Movimento-me como pêndulo. O petardo é lançado. Salto no vazio. Escapo do projétil que vaza a trincheira. Uma multidão urra. Levanto-me. Não tenho ninguém ao meu lado. Nem me olham.
Não, não preciso ser herói. Basta que o rival tenha o seu inferno: a minha glória.

2 comentários:

Bezerra JP disse...

O HOMEM DA SEGUNDA - FEIRA

Conto rabiscado na praia do Farol da Barra, Salvador,Bahia.

Cornélio Carnaval augurava relações e segredos. Os instantes pareciam ter o peso da experiência e hábitos de um comportamento austero.
Antes ele olhava Mariana Parente, os olhos atrevidos pela blusa vermelha.
- O que você imagina?
- Não devo revelar.
Aproximou-se dela, fez um carinho com o dedo na mexa loura que pendia da orelha. Mariana Parente sorria com os olhos como se esperasse outro lance.
Ela sorriu com hálito de dentefrício e por um triz não insi¬nuou a cor de sua langerie sob a saia estampada de azul e preto.
Cornélio Carnaval, de gestos sutis, procurava deixá-la solícita e de olhos evidentemente alegres.
Mariana Parente lembrava "uma cavalgada ávida e silenciosa no meio da noite". "Minha loura, gostei", ela pensava de foro contumaz.
Cornélio Carnaval insinuou num súbito sorriso "você gostou, meu bem?”. "Não posso dizer", Mariana Parente asseverou.
"Você gostou mesmo do meu umbiguinho, meu bem?
"Você notou que eu fungava quando acariciava.
"Não quero lembrar, disse Mariana aununcíando sor¬riso.
Cornélio Carnaval avidamente colhia os instantes medindo as palavras, os olhos, o silencio. Ela parecia gestualizar-se en¬tre o quero mais ou o solícito talvez.
Cornélio Carnaval pensava sutilmente no que Mariana Parente pudesse insinuar ou revelar.

Bezerra JP disse...

Ele lembrava que ela se mostrava sensível a carinhos no pesco¬ço. Ele ria de olhar querendo puxar as lembranças. Mariana Parente mexia intencionalmente com as pernas em movimentos aparentemente compulsivos.
"Não me olhe assim, não quero que veja.
"Sigo seu olhar, brilho e ansiedade, disse ele.
"Você acha mesmo?
Mariana Parente ergueu-se da cadeira como se o "arrastasse” de¬liberadamente com os olhos.
Ela ergueu metade da blusa vermelha.
"Não vai me seguir?
"Evidentemente, que sim, meu bem.
Mariana Parente deixava se levar pelo instante, "nos fatigávamos e ele me chamava de minha loura", ela pensou, entre ávida e compungida.
Diante dele Mariana Parente insinuava livre e nem um rastro de" interdição. "Desse geito que ficamos acho que podemos. Mereço mesmo o que se passa conosco. Ele assentiu discreto. Os olhares amantes revelavam entre o desejo, a ansiedade e a discrição.
Olhe minha blusinha, não o estimula?
Apenas você, meu bem, disse Cornélio Carnaval dividindo a atenção dela com o trãnsito na avenida Frei Serafim.
O relógio do carro me levava ao escritório, o trabalho, o métode o rigor. Mariana Parente me olhava sorrindo. No pescoço o fino cordão em ouro, o cisne branco.
À medida em a distância diminuia da íntima presença, Cornélio Carnaval subitamentce inseria no objetivo o sentido do trabalho.
- Mariana Parente o trabalho me chama.
-Conheço isso, meu bem, disse ela.
-Trabalho, trabalho, depois o pleisir, ma bien.
-Conheço a lógica trabalho e prémio, ela disso sorrindo.
Escritório, cálculo matemático, fichas de trabalho uma ordem aparente, e ao fixar-lhe os olhos, as pernas brancas, a langerie preta, Mariana Parente uma ordem sutil e aparente.
Diante de Cornélio Carnaval ela instante abria arregalado os olhos, como se dissesse "não faça isso ou apenas fechava os olhos, o cisne branco, calma et plaisir.
Cornélio Carnaval diante do fremir fungoso “meu amor, mi amore.” Mariana Parente deixava-se encaixar na exata medida, dimen¬são concreta e abrupta do prazer.
"O que você achou, ma bien? Perguntou ele.
"The love is beutiful, my darling, disse ela pastichando a voz.
Agora que a ciência sabe que a terra está parada e o mundo é azul, quero calma, repouso e uma boa dose de carinho, disse Mariana Parente espreguiçando-se entre lençóis.
Cornélio Carnaval apenas esboçou um gesto solícito como se expressasse “foi bom, ma beute, faça paz, não faça guerra”.
A tarde caía ao toque sutil da vaga expressão "luxe, calma et plaisir.
Mas o dia seguinte se anunciava com o traço da segunda-feira, evidentemente trabalho e rigor e tambem prazer.

Bezerra JP – Escritor e Cientista