Desde crianças, a porta, aquela, fechada, a sete chaves.
“Que nunca se tente, nem em sonho, abri-la.
“?”
“Mistério, meu filho. E com porta fechada assim a sete chaves não se brinca.”
“Ninguém nunca...”
“Não. Desde o trisavô do seu bisavó do seu avô do seu pai... E assim deve ser. Com essas coisas não se mexe.”
Agora, já muito velho para temer e sem nem mais a desculpa da falta da sétima chave, por que não girá-las, nesta fechadura, mesmo tão trêmula a mão? Uma... Duas... Três... Quatro... Cinco... Seis... Sete... Empurro-a, a ansiedade
(o nome mais belo do medo)
que nem garras cravadas no humano peito... Um jato de luz, ofuscante. Aos poucos, ando. Desço escada em espiral. Sob penumbra, infinito corredor. Subo escada em espiral. Infinito corredor, sob penumbra. Desço escada em espiral. Corredor, sob penumbra, infinito.
(Ecos das leitura de Borges?)
Giro... Giro... Giro... Giro... Giro... Giro... Giro... Empurro-a, o medo
(o nome comum da ansiedade)
que nem garras cravadas no humano peito... Onde o jato de luz? Ligo a lanterna. Vasculho, crescente a agonia. Um quarto? Ora, um quarto! Apenas esse quarto vazio? Não! Não!!, eu urro Não!!!, o peito pleno de mágoa, mas ouvidos não ouvem, não querem ouvir. Quedo-me. Choro. ?Como pude crer
(pensando bem, foi melhor assim)
que o velho Astolfo errava quando na verdade não errava o velho Astolfo
(pois muita merda não fiz por esse outro lado da porta intimidado)
e o velho Pedro não errava quando na verdade errava o velho Pedro?
(Astolfo e Pedro, cabeças muito brancas
((disso lembro bem))
(eram)
((e de uns tempos pra cá essa hipótese cogito))
(talvez não Astolfo e Pedro, mas ora Astolfo, ora Pedro)
!A montanha
(((terrível era confirmar)))
parira um rato!
.
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