Vou renascer dessas cinzas, murmurou, pensando em Fênix.
Antes vou dar mais uma tragada, disse resoluto, fazendo pouco caso do mar de cinzas à sua volta. Não é que se arrependera. Mas tava se lixando. Afinal, tudo não passava de uma comédia. Se é que faz tanto mal assim porque não proíbem logo a venda?
Mas como? Tentou se levantar, não conseguiu. Estava reduzido à cabeça, tórax e membros superiores, que estavam necrosados. Olhou-se no espelho. Não conseguia ver nada além daquilo a que ficara reduzido. Não havia mesmo como se reacender, já que não passava de um tronco.
Só havia uma saída. Torcer para que soprasse um vento forte. Com a ajuda, se impulsionaria até rolar pela sarjeta abaixo. Dali para a praça onde os mendigos costumam lutar contra o frio seria questão de minutos. Quem sabe um deles não se apiedasse. Mas havia um risco. Antes de chegar ao destino final, poderia ser esmagado por um sapato de um transeunte apressado ou de um antitabagista radical.
Quando veio o vento da madrugada, resolveu arriscar. E rolou até alcançar a porta da rua. Com mais alguns impulsos e o vento favorável, escorregou pelas valas, desceu ruas, subiu calçadas, desviou-se de um ciclista maluco, chegou enfim à praça e estacionou aos pés de um banco. Agora era aguardar o momento certo.
Perto dali, um velho mendigo, carregando às costas o apurado do dia, lentamente, se dirigia à praça e fazia figa para que sua cama não estivesse ocupada por nenhum concorrente. Acabara de tomar, por caridade do gerente, um cafezinho no bar da esquina. Pena que, freqüentado somente por não fumantes, nem deu pra descolar um cigarrinho, um toco que fosse.
Uma bagana era o que lhe faltava para fechar a noite, além de ajudar a enfrentar o frio.
Por isso mesmo quase não acreditou quando ao chegar à praça percebeu que encostado aos pés do velho banco havia uma ponta. Quando percebeu que não se tratava de uma miragem, abriu um sorriso e friccionou as mãos, ansioso.
Com muito esforço, agachou-se e apanhou-o com uma das mãos. Ainda está morno, vibrou. Foi apagado recentemente e esse é dos bons, é de doutor.
Segundos depois, ele tentava se equilibrar entre os lábios murchos e trêmulos do mendigo.
No início, quase que pulou fora. Mas quando o mendigo o reacendeu e seus pulmões foram invadidos pela primeira nuvem de fumaça, ele meio que esqueceu o hálito insuportável do velho.
Antes vou dar mais uma tragada, disse resoluto, fazendo pouco caso do mar de cinzas à sua volta. Não é que se arrependera. Mas tava se lixando. Afinal, tudo não passava de uma comédia. Se é que faz tanto mal assim porque não proíbem logo a venda?
Mas como? Tentou se levantar, não conseguiu. Estava reduzido à cabeça, tórax e membros superiores, que estavam necrosados. Olhou-se no espelho. Não conseguia ver nada além daquilo a que ficara reduzido. Não havia mesmo como se reacender, já que não passava de um tronco.
Só havia uma saída. Torcer para que soprasse um vento forte. Com a ajuda, se impulsionaria até rolar pela sarjeta abaixo. Dali para a praça onde os mendigos costumam lutar contra o frio seria questão de minutos. Quem sabe um deles não se apiedasse. Mas havia um risco. Antes de chegar ao destino final, poderia ser esmagado por um sapato de um transeunte apressado ou de um antitabagista radical.
Quando veio o vento da madrugada, resolveu arriscar. E rolou até alcançar a porta da rua. Com mais alguns impulsos e o vento favorável, escorregou pelas valas, desceu ruas, subiu calçadas, desviou-se de um ciclista maluco, chegou enfim à praça e estacionou aos pés de um banco. Agora era aguardar o momento certo.
Perto dali, um velho mendigo, carregando às costas o apurado do dia, lentamente, se dirigia à praça e fazia figa para que sua cama não estivesse ocupada por nenhum concorrente. Acabara de tomar, por caridade do gerente, um cafezinho no bar da esquina. Pena que, freqüentado somente por não fumantes, nem deu pra descolar um cigarrinho, um toco que fosse.
Uma bagana era o que lhe faltava para fechar a noite, além de ajudar a enfrentar o frio.
Por isso mesmo quase não acreditou quando ao chegar à praça percebeu que encostado aos pés do velho banco havia uma ponta. Quando percebeu que não se tratava de uma miragem, abriu um sorriso e friccionou as mãos, ansioso.
Com muito esforço, agachou-se e apanhou-o com uma das mãos. Ainda está morno, vibrou. Foi apagado recentemente e esse é dos bons, é de doutor.
Segundos depois, ele tentava se equilibrar entre os lábios murchos e trêmulos do mendigo.
No início, quase que pulou fora. Mas quando o mendigo o reacendeu e seus pulmões foram invadidos pela primeira nuvem de fumaça, ele meio que esqueceu o hálito insuportável do velho.
10 comentários:
J.L,
Digno de um Cortázar tupiniquim! Muito bom!
abç
Lendo as postagens MR. MARLBORO I e II, tive a impressão de que o autor fosse um ex-fumante ou fumante-querendo-parar, de tão nítida a impressão que passou.
Esses textos deveriam vir impressos nos maços e nas carteiras de cigarro.
Cézar Cruz,
a contiuidade de Mr. Marlboro se deve a uma sugestão de um leitor que ao ler a primeira sequência, em comentário, sugeriu que o protagonsta fizesse igual a Fênix, renascesse das cinzas.
Rafael, também concordo, mas não sei se a Souza Cruz ou similar tem o mesmo pensamento.
Abração
"de um leitor", rectius, de uma bela leitora, a minha ex. se tiver o mr malboro três eu volto a exegetar, pq ja tive complicaçao demais com o Mr marlboro I la em casa....
o poeta
Se a "bela leitora" sugerir um tema, terei o maior prazer em escrever mais uma sequência. Ou você próprio, "anônimo",
Caro Prof.João,sabe bem que nem todas as suas palavras me encantam,mas sendo realista,acho esse tipo de texto um tanto quanto infantis.Infantis,sim,e utópicos.Remetem quimeras.Atualmente já não sei distinguir o papel do escritor,deveria ele figurar de Castro Alves e lutar por ideais sociais,ou apenas restringir-se a traduzir sentimentos?!
Volvendo ao Mr.Marlboro,essa não é a melhor roupa com que o vejo vestido...sequer está na melhor companhia,mas não nego que seu cheiro se sente a milhas de distância,cada vez mais perto,com a dança do vento...sonoras palavras coloridas e adornadas com aromas,seus ditos são pura sinestesia.Mister Marlboro é meu super-herói favorito.
Ao menos,é o mais humano que conheço!Escrito ótimo,imutável.Largue essa vanguarda de lado,e ouse!
Atenciosamente,
GRAZI.
Quase ia me esquecendo,meu endereço,para matar sua curiosidade,ou dar-lhe apenas um aperitivo de minhas idéias e palavras:http://recantodasletras.uol.com.br/autores/grazichristie
Abraços e paz!
Grazi, suas palavras me estimulam a dar sequência ao Mr. Malboro, mesmo com infantilidade e utopia.
Vou tentar seguir seu conselho.
Grato.
P.S.: não consegui acessar seu endereço, apenas a página do Recanto das Letras. Fiquei curioso sim para ler/ver tuas palavras. Mas não consegui.
abs
Oi,professor,acho que só pelo nome não lembraste,sou Grazi,sua 'companheira' de sarau(em Picos,UFPI)...É,infelizmente,pouco depois de postar o comentário anterior tive que excluir minha conta no recanto,não tive mais tempo de atualizar!
Espero que lembre de mim(...filha da ProfºJosélia...).Não desista do Mr.Marlboro,ele é meu herói!
Se ainda lembrar o endereço de minha casa,passe aqui para um café,aí sim,terei chance de mostrar meus escritos!
Grande abraço!
Paz.
Grazielle.
se infantil eh pq n conhece legal pediatria utópica pq ignora teoria do estado
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