segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O MATADOR



Aquele que tentara se matar, o primeiro.  Puro altruísmo.  A revolta do n.º 1, quando se viu no leito do hospital, sensibilizou-o.  Também a sedação que lhe foi administrada, apesar dos aparelhos indicarem vida, ganhou, nele, a feição de morto, como se o destino para ele traçado se encerrasse naquele dia.  Sim, atenderia ao desejo do moribundo antes de ir pra casa.
O moço que lhe trouxera, inconsciente, apenas deixou-o no hospital. Saiu murmurando filho da puta repetidas vezes. Durante o dia ninguém o visitou. Afora esbravejar por lhe frustrarem o suicídio, o desgraçado silenciou-se; mesmo quando perguntado se queria que alguém fosse avisado.  O sorriso de desdém, quando momentaneamente parou de se debater na cama tentando livrar-se das cintas que o prendiam, era mais claro do que um não irredarguível.  Imaginava, então, que, em sua visita noturna, ele estaria sozinho, como, parece, sempre esteve.
O apartamento em penumbra: a iluminação da rua, acanhada, visitava o suicida como um tênue fio de vida. Mas bastante para encaminhar-se até o infeliz e manusear o scalp, esvaziando em sua veia, rapidamente, todo o ar contido na seringa. Pronto.  Satisfeito, logo mais, o desejo do paciente.
Aquele que tentara se matar, o primeiro.


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