Aquele que tentara se matar, o
primeiro. Puro altruísmo. A revolta do n.º 1, quando se viu no leito do
hospital, sensibilizou-o. Também a
sedação que lhe foi administrada, apesar dos aparelhos indicarem vida, ganhou,
nele, a feição de morto, como se o destino para ele traçado se
encerrasse naquele dia. Sim, atenderia
ao desejo do moribundo antes de ir pra casa.
O moço que lhe trouxera, inconsciente, apenas
deixou-o no hospital. Saiu murmurando filho
da puta repetidas vezes. Durante o dia ninguém o visitou. Afora esbravejar
por lhe frustrarem o suicídio, o desgraçado silenciou-se; mesmo quando perguntado se queria que alguém
fosse avisado. O sorriso de desdém, quando momentaneamente parou de se debater na cama tentando livrar-se das cintas que
o prendiam, era mais claro do que um não irredarguível. Imaginava, então, que, em sua visita noturna,
ele estaria sozinho, como, parece, sempre esteve.
O apartamento em penumbra: a iluminação da
rua, acanhada, visitava o suicida como um tênue fio de vida. Mas bastante para
encaminhar-se até o infeliz e manusear o scalp,
esvaziando em sua veia, rapidamente, todo o ar contido na seringa. Pronto. Satisfeito, logo mais, o desejo do paciente.
Aquele que tentara se matar, o primeiro.
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