segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O TRIELO

BLONDIE
DE ONDE VEM
Um ponto no infinito. É o que a objetiva capta quando a cortina se abre. Quando avança lentamente uma imagem trêmula surge no canto. Sob um sol causticante. Um só corpo é o que parece ser. Quando se fecha aí se vê. Não é o que se pode chamar exatamente de marcha lenta. Movem-se por inércia. Não são as patas que removem os grãos é que as impulsionam. Os joelhos já não dobram mais.
PARA ONDE VAI
Eles avançam. No desfiladeiro se deixam arrastar sob o olhar atento de um caramujo do deserto que enterra a cabeça na areia aos primeiros gritos do coiote. Tão descarnados. Tão sedentos. Difícil dizer quem é homem quem é montaria.
QUAL O SEU NOME
Desviada para o lado esquerdo a cabeça baixa pela força gravitacional abandonou o movimento do pêndulo. O chapéu mais ainda. Não impedem que o sol siga abrindo crateras. O charuto no canto da boca o barulho do vento na noite passada apagou.
NINGUÉM JAMAIS SOUBE
Ainda assim ele segue. As rédeas seguram a mão esquerda. Mas não se engane quem vê a outra dormindo sobre o coldre. Está atenta. E formigando.
Vamos. Faça o meu dia.
TUCO
A natureza não foi generosa. Mas a ele deu ouvidos atentos que, à distância, ajudavam-no a distinguir os diferentes sibilos da serpente. Com os olhos, sempre piscando e girando de um lado a outro, à frente, movimentava-se em silêncio. Fez-se intimo do calor do deserto, provou do veneno do escorpião, e sobreviveu. A dignidade, esta se foi cedo. Do pai, nunca soube. Da mãe, não se recorda do dia em que a viu sóbria. Mas nada disso importa agora. A vida cuidou de fechar-lhe o coração, deixando-o duro como uma rocha. Não fosse pelo ar de desamparo que, quando descuidado, denunciava o sofrimento e a amargura, não seria arriscado dizer que nunca perdia o bom humor. Alguma dor que não tivesse experimentado? Não. Por isso, viver com a corda no pescoço fazia parte do jogo, mesmo quando não havia um anjo louro à retaguarda.
OLHOS DE ANJO 
Quando cavalgava, mantinha curtas as rédeas e tesos o pescoço e a cabeça do Puro Sangue, o que conferia mais elegância ao trote. Uma raposa, cujos olhos miúdos brilhavam com o tirilintar de moedas de ouro. O chapéu, não exatamente negro, escondia a calvície avançada. O cachimbo, quando preso a um dos cantos da boca, tinha outras utilidades. Assim como para suas reflexões, usava-o também para destilar o veneno que expelia com um olhar contido. Botas e esporas lhe proporcionavam um caminhar firme e pausado. A mão direita, sempre próxima ao coldre invertido e do lado oposto, chamava atenção pelo dedo médio, cuja falange fora decepada com um punhal pelo próprio pai quando ele ainda era uma criança inocente. Não agia por ódio ou ressentimentos. Pragmático. Matar era apenas um negócio, o que não impedia de exercer o ofício com rigor excessivo e sangue-frio. Por isso a frieza no olhar, a impressão de que quase não respirava, a crueldade sem limites. Mas, sejamos justos: ninguém podia acusar-lhe de que não cumpria sua parte nos tratos, mesmo que para isso tivesse que se portar como agente duplo.





Um comentário:

Jô Soares Thimon disse...

nao tenho como nao destacar q aquele espaço de noticias da Ana Matra no jornal q informou de seu proximo livro tinha uma noticia q mais era ficção d 1 processo... era quase um conto pq tinha uma jovem juiza loira q deu 1 indenizaçao d + de meio milhão p um trabalhador falecido logo no primeiro dia d trabalho em um viveiro de camarões... Enfim, Jlr Nto gostaria q, se vc n se ofender q escrevesse algum conto inspirado naquela decisao e fatos de tal indenizaçaão... abraço