“Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair”
Chico Buarque
Deitado, mãos com dedos entrelaçados sob a cabeça. Os olhos mirando a luminária, o teto. Sei lá. Acha que, em verdade, não mira nada, absorto, aposta, em reviver o que entre os dois, mais uma vez, aconteceu. Conferiu, no banheiro, o sabonete e o creme dental — já se habituara a com ela encontrar-se sem usar perfume algum, o que, não sabia ele, mais a excitava. Tudo em ordem. Quis deixar na boca o cheiro da porra de E., para que J., ao beijá-la, sentisse-o no palato. E assim fê-la. Vestiu-se ainda no banheiro. Repôs os anéis e o colar já no quarto. Ele quis levantar-se. Disse-lhe para continuar na cama; que preferia sair e ter como imagem ele deitado, nu.
Assim ficou. Ouviu o destrancar da porta, e, em seguida, sendo fechada. Levantou-se. Dirigiu-se ao banheiro. As mãos sobre a parede e a água a despejar-se sobejamente sobre o seu corpo. As lembranças levaram-no à ereção. Definitivamente, não se sentia, apesar do prazer que G. lhe proporcionava, feliz. O fato de G., após encontrarem-se, retornar ao marido o incomodava. Quantas vezes lhe pedira para abandoná-lo? Oh, pobre coitado.
Um comentário:
Belo conto, M. de Moura Filho, em que você, acho, retrata uma realidade.
Assim, parece, são as relações hoje.
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