penetrei intricados labirintos
cruzei infinitas câmaras
e antes que minhas retinas mourejassem
fiz concessões
de que me envergonhei depois
e
não me perdi
na saída
vi um jardim de tulipas negras
um rio circular
em cujas águas purifiquei o corpo
quando emergi e me pus em terra firme
desfiz-me em grãos de areia
tornei-me infinitesimal
ainda assim
senti frio
fui varrido pelo tempo
busquei abrigo
numa das mil e uma noites
[imaginei que ali encontraria o sentido de tudo]
aqueci-me
mas aí veio a febre
numa delas
sonhei
que dormia como um justo
nos braços de Sherazade
toquei com o dedo a lâmina do espelho
vi vários de mim
multiplicados
sem fim
como naquele jogo que inventastes
sonhos tigres punhais
hoje são teus olhos
[Deus irônico!
engolidos pelo breu da noite]
guias opacos
que me arrastam
como a tua sombra
pelos corredores da biblioteca hexagonal
eu li [tu dissestes]
não há nada que é
ou que será
que [eu] já não tenha sido
agora sei do outro
[que é] o mesmo
ser Borges
duplo de si mesmo
eu sei você vai saber
Um comentário:
Belo poema no reduto da confraria. A poesia venceu.
Postar um comentário