quarta-feira, 16 de julho de 2008

ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE

Chegou em casa com um misto de So Pretty, da Cartier, e Z, de Ermenegildo Zegna. O timbre da voz, percebeu logo, não era o comum. Nem a pauta:
— Demorei porque encontrei a fulana.
As narinas vibraram silenciosas. O Z não era feminino. Tampouco fulana era uma desmiolada: nunca usaria um perfume masculino.
Quem lhe teria tocado com patchouli? A percepção, ainda que não sentisse aroma diverso da que usava, era de quem, se não o traíra, fodendo, estivera flertando. O pigarro, quando detestava cigarro, indicava a mentira, ou, no mínimo, o desconforto.
— Você agora usa Z?
— Tá louco?
Vagabunda, murmurou, tateando o caminho rumo ao quarto. Retrucou, em sussurro, filho da puta.
E foram dormir.

3 comentários:

f.wilson disse...

Leonam reproduz em seus contos a vida cotidiana das pessoas que vivem na cidade grande: o desgaste da relação familiar, a solidão, personagens ilhados entre uma sociedade de consumo.
"Até que a morte os separe" faz o leitor afastar o próprio rosto do espelho do seu quarto e refletir sobre seu dia-a-dia.

Anônimo disse...

Quanta ironia! A começar pelo título... Isso Valorizou enormemente o texto, transformando-o num belo conto.

Anônimo disse...

vc plagiou o poema Tragedia Brasileira q tem o Ismael do Manuel bandera pelo menos ficou legal!