domingo, 8 de junho de 2008

CORDIAIS SAUDAÇÕES

Ela chegou aflita. Arriou alguns pacotes de compra sobre a poltrona. O olhar de relance na paisagem do poty no óleo na parede. Rosilene Donora parecia trazer na memória alguns parágrafos de um conto da codecri (trama construída com sutis ranços de relações provisórias), ela julgou. Rosilene Donora apaziguada da pressa, com o olhar retirou Glauco Dantas do microcomputador.
"Meu bem retire de mim este fardo", ela disse, num aconchego rápido de corpos, acomodando-se ao sofá.
Glauco Dantas encarou Donora como se infundisse na mulher palavras que queriam ser ditas por força de acalorada pesquisa.
"Meu bem, Xatetoçó xalá estin", diziam os gregos por trás das marcas do tempo.
"Não queria ouvir isso de você com esta mão aposta na minha perna", disse Donora, com riso oculto na voz.
"Não cultivo o belo difícil, Donora, mas a expressão brotava com a contenção que me foge agora, disse Glauco Dantas.
"Xatetoçó xalá estin, xalá me atraia, porém o aconchego agora..."
"Coisas belas difíceis são" ou fáceis assim também delas, insinuou Glauco.
"Vá lá, Xatetoçó xalá esti" ou as coisas simples e belas, Donora disse sem retirar o olhar do vídeo, e premindo-lhe na perna como se pretendesse mais que uma atenção.
"Meu bem, os gregos tinham dessas, e nós agora..."
"O corvo bem familiar dos gregos. Vamos agora?
"Agora não, gavião", Donora disse, arrancando dele um olhar de contenção.
"Xopác, corvo, xopác", gosto de ouvir estas palavras, parecem transmitir algum DNA de civilização.
Ele a retirou da televisão com um olhar. Era assim que os fios de palavras atravessavam a noite, como o vôo do corvo e o rugir de concretas metáforas na cama.

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