domingo, 29 de abril de 2012

CÉLULA MATER

               
O pai vive de agiotagem que, dizem aqui, é um ilícito penal, muito embora ainda esteja por nascer aquele que, desse lado ocidental e cristão, será condenado por crime de usura. Os pequenos funcionários públicos são a clientela preferencial. O barnabé nunca amortiza a dívida, pois quase sempre é convencido a pagar somente os juros extorsivos. O capital de giro, não deposita em banco, guarda-o num cofre, cujo segredo é guardado a sete chaves. Não faz supermercado, vai à feira do bairro, onde compra somente o que pode consumir no dia a dia, para não estragar, justifica. Certa vez, para diminuir as despesas, tentou vender um dos netos, órfão de pai e mãe, mas, como a oferta não foi do tipo irrecusável, desistiu. Temente a Deus, por suas obras, arrependeu-se do gesto. Ainda assim, se penitencia. Com uma inabalável estoicidade, diariamente, ora pelo retorno do neto que, ao saber de sua intenção, tomou destino ignorado e hoje vive no desterro. Casado há mais de 40 anos. Há vinte dorme na casa da amante, mas faz questão de tomar o café da manhã em família, a quem dedica integralmente o final de semana, quando então, marido e mulher dormem no mesmo quarto, ela na cama, ele na rede. Dos 11 filhos, as mulheres são a maioria. Casadas, separadas, amasiadas, uma delas indisposta. Netos a perder de vista, que, em vão, lhe esvaziam os bolsos à procura de um níquel, porque as filhas, ainda hoje, se aninham com a numerosa prole na casa do patriarca. A mãe costuma dizer que carrega uma cruz, o filho caçula. Alcoólatra, esquizofrênico e viciado em anfetaminas. A cunhada, eterna solteirona, testemunha cotidiana daquela avareza, além de ressentida por razões que nunca publicou, sempre pergunta pra que é que ele forma tanto patrimônio, ajunta tanto dinheiro, se não gasta, e nada disso vai levar pra debaixo do chão. Pros filhos brigarem entre si, quando ele morrer, diz a esposa resignada com a sorte. A cruz, nos raros momentos de sobriedade, alardeia: na hora em que ele fechar os olhos, a primeira coisa que eu vou fazer é arrombar aquele cofre e botar o dinheiro todo na goela!





 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

RISCA DE GIZ

Fiz aquilo que pediu noutro dia, não quer ver (de perto) como ficou?
Tosa total?
Quase.
Ficou só a risca de giz.
Não vejo a hora de mostrá-la...